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sábado, novembro 19, 2011

O que é a vida?







Essa questão tem uma história sabidamente longa e turbulenta, estimulando poetas e céticos, filósofos e mecânicos quânticos, biólogos e místicos, a oferecer um desnorteante pot-pourri de explicações radicalmente diferentes. A vide é um fenômeno único e fundamentalmente diferente da não vida, opinou o filósofo francês Henri Bergson. Bergson teorizou que a vida é irresistivelmente impelida a níveis cada vez mais altos de realização evolutiva por uma misteriosa força vital (élan vital), que é inteiramente ausente na matéria não viva [1].

Absurdo, objetou o cético Robert Morrison. A palavra vida é apenas uma convenção lingüística que empregamos para descrever uma classe especial de objetos materiais que têm algumas incomuns características termodinâmicas e comportamentais. Além do fato de partilharem certas propriedades, as coisas vivas são indistinguíveis de pedras sem vida:

“A vida não é uma coisa ou um fluido mais do que o calor o é. O que observamos são alguns conjuntos incomuns de objetos separados do resto do mundo por certas propriedades peculiares, como crescimento, reprodução e maneiras especiais de lidar com a energia. Esses objetos, escolhemos chamar de coisas vivas [2]”.

A arma secreta da vida, concluiu o pioneiro da física quântica Erwin Schrödinger num livro intitulado What Is Life? [O Que é a Vida?], é sua capacidade única de metabolizar: exportar desordem para o ambiente circundante em forma de calor irradiado e excrementos enquanto importa ordem desse ambiente em forma de alimento e energia [3].

[...] O livro de Schrödinger foi uma inspiração para toda uma geração de cientistas que criaram, basicamente a partir do zero, o enorme empreendimento científico hoje conhecido como biologia molecular. Em particular, Schrödinger antecipou e inspirou a épica façanha de James Watson e Francis Crick: a descoberta da estrutura do DNA.

[...] Watson revelou que foi a conjectura de Schrödinger que inspirou seu insight:

“Schrödinger argumentou que a vida pode ser pensada em termos de armazenamento e transmissão de informações biológicas. Os cromossomos seriam assim meros portadores de informação... o livro de Schrödinger teve muita influência. Muitos dos que seriam os principais atores do Primeiro Ato do grande drama da biologia molecular, inclusive Francis Crick (ele mesmo um ex-físico), leram What Is Life? e ficaram impressionados, como eu”.

Watson tirou uma importante conclusão filosófica de sua descoberta do fundamento molecular da vida e da hereditariedade: que a vida não é tão diferente assim da não vida, e que a matéria viva não abriga segredos inerentemente impenetráveis:

“Nossa descoberta põe fim a um debate tão antigo quanto a espécie humana: Será que a vida tem alguma essência mágica, mística, ou é, como qualquer reação química produzida numa aula de ciências, o produto de processos físicos e químicos normais? Haverá alguma coisa divina numa célula que a traga a vida? A dupla hélice respondeu a essa pergunta com um definitivo Não”.

Ironicamente, seu mentor intelectual (Schrödinger) chegou precisamente à conclusão oposta em What Is Life?, ao observar que a característica que define a vida – sua capacidade para produzir e prolongar a existência de uma ilha de ordem contínua, incessantemente fustigada por um mar de aleatoriedade e de desordem movida a entropia – é uma forte evidência da existência de um “novo tipo de lei física” que governa o comportamento da matéria viva [4].

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[1] Mesmo antes da descoberta do DNA, muitos filósofos antigos e recentes têm concebido esta idéia de uma força vital a impulsionar os seres a evoluir. Schopenhauer, por exemplo, fala em uma força que nem sempre está interessada em nossa felicidade – tudo o que ela “deseja”, em realidade, é garantir a procriação da espécie. Desnecessário dizer que muitos biólogos evolutivos concordam com ele.

[2] Há muitos que se dizem materialistas, crendo que isso significa simplesmente que não crêem em espíritos ou assombrações. Outros acham que ser materialista significa dar grande valor a bens materiais e riquezas, etc. Não, ser materialista significa crer que apenas a matéria já detectada explica todo o funcionamento da vida e da consciência. Sim, detectamos apenas em torno de 4% da matéria do universo, os materialistas têm uma fé enorme nesta aposta... Dito isso (e também considerando que nem todos os céticos são materialistas), para reduzirmos seres a coisas, consciências a máquinas biológicas, antes é preciso comprovar que coisas ou máquinas são capazes de interpretar informações e elaborar respostas morais e emocionais em geral, ao invés de apenas computar informações e/ou imitar comportamentos de seres que consideramos vivos. Para começar, seria bom alguma máquina finalmente passar no teste de Turing.

[3] Geralmente se considera esse mecanismo anti-entrópico singular dos seres vivos apenas no campo da ordem do organismo em si. Se fomos pensar em toda a ordem de armazenamento de informações no cérebro, independente de entropia “exportada” para fora do corpo, temos uma outra grandeza de ordem a ser analisada. Poucos cientistas pensam nisso...

[4] Moral da história: “Pouca ciência afasta, muita ciência aproxima”... De que afasta? De que aproxima? De Deus (seja como for), do Cosmos, dos mistérios ainda insondáveis da natureza, daquilo que somente os grandes gênios da ciência ousam considerar...

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Crédito da imagem: Bill Varie/Corbis

Texto de James Gardner em "O universo inteligente" (Ed. Cultrix) – Trechos das pgs.53 a 55. Tradução de Aleph Eichemberg e Newton Eichemberg. As notas ao final são minhas.


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Reflexão

Estou aprendendo que a maioria das pessoas não gostam de ver um sorriso nos lábios do próximo.Não suportam saber que outros são felizes... E eles não! (Mary Cely)